terça-feira, setembro 19

BIG BROTHER AÇORIANO

O livro “1984” imortalizou-se, por assim dizer, na figura do Big Brother, o grande irmão omnipresente na observação e controlo de todos os cidadãos. Todavia, não foi por intermédio desta expressão literária e ficcional que o Big Brother chegou ao grande público. Para a maioria dos não leitores da obra de Orwell, a designação do líder do IngSoc, o partido do poder, corresponde ao voyeurismo de culto, difundido por um programa televisivo. Mas quem saboreou o magnífico recorda que a personagem central da obra trabalhava no Miniver (Ministério da Verdade) a transformar a realidade. Winston Smith alterava dados e lançava os originais, que pudessem contradizer as verdades do partido, num incinerador, apropriadamente titulado por Buraco da Memória. Por exemplo, o Partido informava que a ração de chocolate semanal aumentava para 20 gramas para cada cidadão, logo “o trabalho de Winston consistia em recolher todos os dados antigos que descreviam que a ração era de 30 gramas e substitui-los pela versão oficial”.
Na educação açoriana, as estatísticas e dados oficiais não são alterados como no mega bloco da Oceânia. Mas a interpretação dos números e a artificialização dos indicadores não ficam muito longe do desplante que regia a acção do Miniver.
Se acaso se regista alguma melhoria, logo o feito é atribuído às políticas do governo, “à estabilidade do corpo docente, à permanência mais prolongada dos professores nas escolas” e a outras miudezas, consubstanciadas em forma de decreto, portaria, regulamento ou circular. Quando não somos bem sucedidos, imediatamente a culpa é remetida para terceiros.

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