quinta-feira, junho 22

A COLHER DE CÉSAR


A sabedoria popular diz que entre o homem e a mulher não se ponha a colher. Julgo que o princípio, assim enunciado, se aplica em muitas circunstâncias da vida, principalmente quando os casais têm pela frente os obstáculos que são próprios à convivência debaixo de um tecto comum e entre os mesmos lençóis.
Mas ainda que se diga que a voz do Povo é voz de Deus, de vez em quando desafia-se a lógica da expressão popular, muda-se o sentido das coisas e o juízo que delas fazemos.
É precisamente isso que proponho fazer hoje: meter a colher entre o homem e a mulher, mexer na sua relação tensa, nas ligações crespadas, intrometer-me nas palavras azedas, nas insinuações mordazes entre um par, decididamente incapaz de conciliar decisões, de juntar, como se diz, os trapinhos, e fazer a vida a dois.
Ele e ela quase primam pelo voltar de costas. Capricham na competição entre ambos. Não perdem a oportunidade de desferir um tiro certeiro. Entre eles, homem e mulher, a farpa substitui a seta de Cupido. Diria-os exímios adversários de estimação. E, sem espanto, ainda bem que assim é.
Carlos César e Berta Cabral não foram talhados para o entendimento. A muito custo poderão coincidir as suas opiniões ou cruzar-se o destino das suas decisões políticas. No dia-a-dia habituámo-nos ao arremesso da crítica, à subtileza da palavra entre o presidente do governo regional a presidente da maior autarquia açoriana. Acostumámo-nos à troca de galhardetes, à resposta pronta, aos dribles, aos assobios. Cada um no seu estilo, indiferente às regras do jogo, mas empenhado a cair nas graças da arbitragem popular.
Por estes dias, Carlos César voltou à liça. Qual médio volante, distribuiu o jogo à revelia da táctica, da força do adversário e da fraqueza dos colegas de equipa. Atirou a bola para a frente, contra violas e brasileiras, pagas pelas câmaras municipais.
Assistindo ao jogo na bancada, muitas vezes também fico com a sensação de que sobra circo onde falta casa, estrada, escola. Portanto, por este prisma o remate de Carlos César levava o destino certo. E digo bem: levava, não fosse o caso de a própria equipa e o próprio presidente do governo regional também se meterem na táctica das violas e brasileiras e nos dribles dos subsídios sem critério.
E assim Carlos César foi apanhado fora de jogo. Vai para uma semana, anunciou um subsídio de dois milhões de euros ao Santa Clara. Pelos meus cálculos são mil e cem contos por dia. Repito, mil e cem contos por dia – todos os dias do ano. Domingos e feriados incluídos, haja ou não bola, espectadores ou treino.
E depois, nem de propósito, nos dias mais próximos o governo regional promove uma feira de culturas, bem recheada de violas e brasileiras, cantores e artistas de toda a banda, não faltando, sequer a robusta Fáfá de Belém. Mas talvez os nobres propósitos da iniciativa justifiquem as centenas de milhares de euros que se vão gastar na Ribeira Grande. Ora digam lá se contribuir para a paz mundial, combatendo o racismo e a xenofobia não vale todo aquele dinheiro e muito mais? Mais, neste caso, é a contradição entre o discurso e a prática. Não fossem estes desmandos e eu não metia a colher entre o homem e a mulher. Mas que hei-de fazer, se raramente a bota joga com a perdigota?

(Dito hoje na Rádio Atlântida)

quarta-feira, junho 21

LÍNGUA (A)FIADA

Esta noite, na "Língua Afiada" um dos intervenientes teve o desplante de classificar o tempo dos governos do Doutor Mota Amaral de obscuros e parcos em liberdade de expressão. Pelo contrário, considerou a governação de Carlos César como um tempo de libertação. E logo adiantou, para fundamentar a sua brilhante análise, o exemplo de Nuno Barata, alcandorado a comentador de televisão. O tal fulano não sabe ou esqueceu (e, portanto, é ignorante ou amnésico) que Carlos César foi comentador residente num programa da RTP/Açores que imitava o conhecido "Cross Fire". O outro comentador era Jorge Cabral, então deputado do PSD. Osvaldo Cabral fazia a moderação e o programa foi emitido durante largos meses... no tempo do Doutor Mota Amaral.
Moral da história: há línguas mais fiadas do que afiadas!

EXAMES NACIONAIS


Hoje milhares de alunos fizeram provas dos seus conhecimentos em Biologia e História.

terça-feira, junho 20

E MAIS UM ADEUS

ADEUS AO PESQUEIRO

O DISCURSO E O PARECER

1 – Há relativamente pouco tempo escrevi nestas páginas sobre a sistemática utilização pelo Governo Regional da estratégia comunicativa de Goebels. A repetição de uma determinada ideia, ainda que pouco conforme com a realidade ou de duvidosa seriedade, acaba por incutir no senso comum – vulgarmente designado por opinião pública – a sensação de rigor e sucesso que, infelizmente, não gozamos.
Por estes dias uma entrevista de Carlos César a um semanário local fez prova material do contraditório em que convivem discurso e realidade. No Dia dos Açores o presidente do Executivo afirmava, provavelmente sem hesitações, que “há mais subsídios nas prosas dos analistas políticos nos jornais do que publicados no Jornal Oficial. Com a vantagem de quase todos os subsídios resultarem agora de uma regulamentação rigorosa, ao contrário do que acontecia há dez anos”.
À primeira leitura seríamos tentados a dar razão ao autor daquelas palavras. A verificação detalhada da afirmação leva-nos, todavia, por outros caminhos e a conclusões obviamente distintas das proferidas por Carlos César.
Coincidência, ou talvez não, nas vésperas da publicação da dita entrevista, Guilherme d’Oliveira Martins, antigo ministro de Guterres,
e agora presidente do Tribunal de Contas, havia feito a entrega formal da Conta da Região de 2005 ao Parlamento açoriano. Ora, na ocasião ficámos a saber que naquele ano do Orçamento Regional voaram quase cem milhões de euros (ou vinte milhões de contos, se preferirmos em moeda antiga). Portanto, os subsídios abundam e não são invenção dos jornais e de quem neles exprime livremente a sua opinião.
Esta evidência, minuciosamente apurada por aquele Tribunal foi acompanhada de outra bem mais contraditória com a declaração de Carlos César: 20 por cento dos subsídios – cerca de cinco milhões e meios de contos – foram atribuídos sem justificação legal. Dificilmente poderei acreditar que há dez anos atrás seriam concedidos diariamente 14 mil e oitocentos contos de subsídios sem justificação legal.
E não se julgue que esta situação atípica foi um acidente de percurso na governação socialista. Nada disso. O Parecer do Tribunal de Contas sobre a Conta da Região de 2004 aponta nas respectivas conclusões que “a atribuição de apoios fora da esfera do legalmente estabelecido (26,7 milhões de euros não indicam o enquadramento legal ou apresentam-no inadequado), além de discricionária é potencialmente violadora dos princípios constitucionais da igualdade, proporcionalidade, justiça e imparcialidade”.
Além disso, acrescenta o TC, “existem apoios atribuídos por diferentes Departamentos Governamentais para a mesma finalidade, situação potenciadora de práticas injustas e discriminatórias, podendo indiciar a falta de critérios consistentes na atribuição dos apoios”.
2 – Em Março passado, na Assembleia Legislativa foi constituída uma comissão eventual de inquérito sobre a segurança social. A finalidade da referida comissão parlamentar é apurar a atribuição indevida de subsídios da segurança social para fins particulares e de intuito eleitoralista. Volvidos mais de três meses o Governo Regional ainda não facultou a documentação necessária para os deputados realizarem um juízo sobre o caso. Relação de causa e efeito?

(publicado dia 20 de Junho no jornal Açoriano Oriental)

quarta-feira, junho 14

GREVE! FÉRIAS?

Os professores estão em greve. Contra a proposta de revisão do estatuto da carreira docente, apresentada pelo Governo da República. Descabeladamente o ministro dos Assuntos Parlamentares, professor universitário de profissão, insinuou que esta paralisação era um prolongamento de umas mini-férias, por se verificar entre os feriados de Santo António e do Corpo de Deus. O homem não tem emenda. Santo António festeja-se no concelho de Lisboa. Para este distinto socialista o país é Lisboa e o resto é paisagem.

sexta-feira, junho 2

A MENTIRA DO SALDO

O Governo Regional insiste no discurso do saldo orçamental. Se é verdade que sobram verbas no orçamento, por que razão o Serviço Regional de Saúde deve milhões de contos à banca e a fornecedores? Na administração dos portos, na gestão da reconstrução e das estradas e noutras empresas públicas, criadas para desorçamentar as respectivas despesas, o buraco orçamental há muito que se transformou numa cratera. Onde se afundam as mentiras do discurso oficial das finanças públicas.