Os Açores descobriram, finalmente, a sua vocação para passerelle de beldades. Aqui, a vegetação luxuriante, a agitação marítima e, indiscutivelmente, a humidade fazem transpirar belezas que outros desfiles e paragens ocultam. Nestes rochedos vulcânicos renascem as formosuras da Atlântida, do continente perdido que Platão imortalizou.
Só assim se percebe esta vocação, tardia mas decidida. As mulheres (algumas mais meninas do que senhoras) desfilam na busca de exuberantes títulos. Miss Turismo, Miss Açores, Miss Ilha e Miss Concelho, que nestes casos se multiplicam por 8 e por 19, atestando que gente bonita é coisa que temos em fartura. Note-se que não disse com fartura, mas sim em fartura, em abundância, em grande número, porque a opulência do corpo, de algumas das suas partes, impede o passeio entre os holofotes ou, chegando à ribalta, tornam inacessíveis o manto e a coroa da fama.
Em teoria, ou em potência, como diriam os filósofos e os políticos, abundam beldades cá nas ilhas. O pior é que, desfilando com as misses das cidades europeias, os senhores que ajuizaram as medidas e atributos das candidatas foram incapazes de vislumbrar na nossa prata da casa uma pontinha de brilho.
Nesta coisa das beldades parece que, irremediavelmente, também ficamos na cauda da Europa.
sexta-feira, setembro 29
ILHAS DE MISSES
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terça-feira, setembro 19
BIG BROTHER AÇORIANO
O livro “1984” imortalizou-se, por assim dizer, na figura do Big Brother, o grande irmão omnipresente na observação e controlo de todos os cidadãos. Todavia, não foi por intermédio desta expressão literária e ficcional que o Big Brother chegou ao grande público. Para a maioria dos não leitores da obra de Orwell, a designação do líder do IngSoc, o partido do poder, corresponde ao voyeurismo de culto, difundido por um programa televisivo. Mas quem saboreou o magnífico recorda que a personagem central da obra trabalhava no Miniver (Ministério da Verdade) a transformar a realidade. Winston Smith alterava dados e lançava os originais, que pudessem contradizer as verdades do partido, num incinerador, apropriadamente titulado por Buraco da Memória. Por exemplo, o Partido informava que a ração de chocolate semanal aumentava para 20 gramas para cada cidadão, logo “o trabalho de Winston consistia em recolher todos os dados antigos que descreviam que a ração era de 30 gramas e substitui-los pela versão oficial”.
Na educação açoriana, as estatísticas e dados oficiais não são alterados como no mega bloco da Oceânia. Mas a interpretação dos números e a artificialização dos indicadores não ficam muito longe do desplante que regia a acção do Miniver.
Se acaso se regista alguma melhoria, logo o feito é atribuído às políticas do governo, “à estabilidade do corpo docente, à permanência mais prolongada dos professores nas escolas” e a outras miudezas, consubstanciadas em forma de decreto, portaria, regulamento ou circular. Quando não somos bem sucedidos, imediatamente a culpa é remetida para terceiros.
Publicada por Joaquim Machado à(s) 23:27 0 comentários
sábado, setembro 16
GOVERNO ENGANA PROFESSORES
No fim do passado mês de Junho o Governo de Carlos César fez aprovar na Assembleia Legislativa dos Açores um diploma regulador da actividade docente na Região. Aparentemente o presidente do Governo cumpria a promessa de devolver aos professores a dignidade profissional que lhes fora usurpada, principalmente no respeitante às componentes lectiva e não lectiva.
Embora juridicamente trôpego quanto à sistematização e linguagem e confuso no conteúdo, o diploma parecia resolver alguns dos imbróglios cometidos no ano lectivo que findava.
Coisa diferente era a interpretação conveniente e maliciosa do Governo sobre as disposições que estava a emanar, algumas das quais fizeram (finalmente!) corar os imperturbáveis e reverentes deputados socialistas. Na urgência de abafar os protestos e as críticas parlamentares, lá cozinharam uma redacção à medida dos imediatos interesses de todos. Calaram-se as vozes críticas e conferiram-se poderes discricionários ao secretário da Educação para fazer aplicar o diploma conforme lhe aprouvesse.
Na secretaria da rua da Carreira dos Cavalos galoparam as ideias. Faça-se tudo segundo a nossa vontade, terão dito os mandantes. E logo os horários dos professores se compuseram como doze meses antes. Convenhamos que é muito particular esta forma de dialogar, negociar e cumprir promessas.
Publicada por Joaquim Machado à(s) 16:57 0 comentários
terça-feira, setembro 12
REGRESSOS
Setembro é o mês dos regressos.
Voltamos ao ponto de partida. A casa. Ao trabalho. Às aulas. Às rotinas. À intensidade do quotidiano. Aos dias cinzentos e chuvosos. Aos BLOGS.
Para ficar.
Publicada por Joaquim Machado à(s) 22:46 1 comentários