Passados dois mil anos, continuamos tentados a não subir o Monte das Oliveiras. Preferimos trinta moedas, fáceis, trocadas pelo beijo de uma traição, como fáceis são todas as hipocrisias. Desembainhamos a espada, com voluntarismo. Cortamos a fio, quantas vezes sem olhar por onde e a quem. Cada problema, cada incómodo entregamo-lo a Herodes. Lavamos as mãos. E logo julgamos sossegar a consciência. Indiferentes à tentação, ao suplício que murmura ao lado. Negamos uma, duas, três vezes. Por comodismo. Por indiferença. Erguemos o ceptro, símbolo efémero dos poderes, das cobiças, que perseguimos com obstinação. Cravejamos a coroa, implacavelmente. Repartimos as vestes. E sem rebuço deitamos sortes sobre a túnica. Desviamo-nos, incessantemente do caminho do Calvário. Porque nos incomoda o pó da estrada, e mais ainda a subida íngreme da dor. Tememos a sombra da cruz, que nos encobre de remorsos.
Dito esta Quinta-Feira Santa na Rádio Atlântida.
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