Há precisamente cinco semanas, sem qualquer iluminação de vidente, antevi o domínio do futebol sobre os destinos da Nação. Conhecendo o país que somos, a previsão era fácil e óbvia. Dificilmente uma medida governativa teria rasgo suficiente para fazer esquecer um drible do Ronaldo, um remate certeiro de Maniche e uma defesa de Ricardo.
Dificilmente uma decisão do Banco Europeu teria mais valor do que o contrato do senhor Scollari.
E longe de mim pensar, com tanta antecedência, que os 23 seleccionados levariam tão longe esta euforia nacional. Bastavam-me, então, os 78 jogos que as televisões haviam de transmitir em pouco mais de um mês, mais as emissões em directo dos treinos, das conferências de imprensa, da entrada e saída dos hotéis, dos bares e praças do país inteiro e de todo o lugar onde se concentra a lusa gente.
Como a essa avalanche futebolística se juntavam as festas e os festivais de Verão, facilmente vaticinei a ida dos políticos para férias, antes do calor apertar, pois de boa vontade, o país lhes concedia a folga. E alguns foram. Outos, se permanecem no gabinete, como sempre, ninguém dá por eles.
Alguns, teimosamente e por súbita vocação de serviço público, continuam no seu posto, ainda que afastados dos holofotes televisivos ou remetidos para o fim dos telejornais, fazendo concorrência à curiosidade e ao entretenimento que preenchem esse espaço no alinhamento das notícias.
Acaso alguém notou a saída de Freitas do Amaral do ministério dos negócios estrangeiros? O distinto professor de direito, que fez toda a sua vida política na direita, retirou-se, oficialmente, por motivos de saúde. Ficaram aliviados os socialistas e os diplomatas, uns e outros incomodados pela presença de um corpo estranho.
Entre nós, a odisseia do transporte marítimo continua sem fim à vista. O navio “Ilha Azul” atrasou-se mais de duas semanas, à espera da certificação, para navegar segundo as regras de segurança definidas pelas autoridades marítimas nacionais e comunitárias. Carlos César criticou as ditas autoridades por “excesso de zelo”, em vez de deitar à água (que é como quem diz, demitir) o secretário da economia, responsável por um agitado e turvo concurso público.
De passagem pela Região, o ministro responsável pelo sector das pescas contentou-se com a redução da zona económica exclusiva dos Açores de duzentas para cem milhas. O discurso do ministro deita por água abaixo a algazarra dos socialistas açorianos, feita há pouco mais de dois anos, quando a União Europeia determinou aquela alteração e o PSD liderava o governo da república.
Por entre outras gafes e caricaturas que o futebol vai ofuscando, registo um anúncio com grande antecedência: em 2007, cinco anos depois da data prevista, o cartão de utente do serviço regional de saúde vai ter utilidade. Até lá, as férias, o verão, outros futebóis e outras festas – ou violas e brasileiras, como agora se diz – hão-de entreter o povo.
(Dito hoje na Rádio Atlântida)
quinta-feira, julho 6
CARICATURAS
Publicada por Joaquim Machado à(s) 18:29
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1 comentário:
Olá...
Obrigado pelo comentário e pelo "link" (um dia destes retrubuo).
Eu, seguindo o rasto de um dos teus comentários, tenho já vindo a "espreitar" este teu canto. "Ando é numa" de disciplinar o tempo usado neste universo, e, para isso, nada como fazer contenção nos comentários.
(polegar em riste)
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